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FMC discute maiores desafios da ciência

As desigualdades sociais como barreiras que dificultam a sustentabilidade global foram o tema da primeira sessão plenária do 6º. Fórum Mundial de Ciência (FMC), realizada na manhã de ontem (25/11) no Rio de Janeiro. A sessão, coordenada por Gretchen Kalonji, pesquisadora da área de ciências dos materiais e engenharia, e diretora geral assistente da Unesco, mostrou um quadro diversificado sobre situações de desigualdades e busca de soluções no Brasil e na China, e a possibilidade de acesso global a dados sobre variações genéticas.
As desigualdades sociais como barreiras que dificultam a sustentabilidade global foram o tema da primeira sessão plenária do 6º. Fórum Mundial de Ciência (FMC), realizada na manhã de ontem (25/11) no Rio de Janeiro. A sessão, coordenada por Gretchen Kalonji, pesquisadora da área de ciências dos materiais e engenharia, e diretora geral assistente da Unesco, mostrou um quadro diversificado sobre situações de desigualdades e busca de soluções no Brasil e na China, e a possibilidade de acesso global a dados sobre variações genéticas. John Burn, geneticista e professor da Universidade de New Castle, Inglaterra, fez uma apresentação entusiasmada sobre o projeto denominado “Human Variome Project”, sediado na Austrália, que se dedica à coleta e organização de dados sobre variações genéticas, com a finalidade de compartilhar os dados em escala global. A visão do projeto, do qual John Burn participa como membro do conselho científico, é organizar uma base de dados genéticos a ser acessada pela internet e, em futuro próximo, contribuir com a diminuição de doenças que possam ser detectadas geneticamente.
A cientista social Linxiu Zhang, diretora do Centro de Política Agrícola da China falou sobre os problemas de desigualdades que persistem sobretudo entre crianças e jovens da população rural chinesa. Zhang, com uma visão autocrítica surpreendente, afirma que um dos grandes desafios da China atual é como superar as dificuldades de acesso à saúde e educação que persistem no meio rural. Nos últimos 30 anos, a pesquisadora chinesa dedica-se a estudos sobre políticas públicas para o desenvolvimento rural de seu país, e atualmente é diretora do Projeto de Ações para a Educação Rural (REAP, na sigla em inglês), que tem a finalidade de levar programas de saúde, nutrição e educação para mitigar as desigualdades existentes nas áreas rurais.
A diminuição das desigualdades sociais no Brasil, preconizada sobretudo por programas governamentais como o Bolsa Família, foi o foco da apresentação de Ricardo Paes de Barros, secretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Barros admite que, apesar de grandes avanços nos últimos anos, o Brasil ainda concentra grandes desigualdades regionais, com municípios que têm índices de desenvolvimento humano (IDH) similares ao de países desenvolvidos como a Holanda, e outros similares a países muito mais pobres como Uganda.
Envelhecimento
A presidente da SBPC, Helena Nader, coordenou no período da tarde a sessão paralela sobre os desafios médicos do envelhecimento. “Em todo o planeta a população está envelhecendo, as pessoas estão vivendo cada vez mais, e isso traz problemas, e exige uma abordagem multidisciplinar de ações e de políticas públicas. Com o envelhecimento aumentam os riscos das doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, perda da função cognitiva, afasia, audição”, afirmou Nader. O especialista em saúde pública do Banco Mundial, Fernando Lavadenz, fez uma apresentação detalhada sobre a situação do envelhecimento nos países da América Latina. Segundo estudos coordenados por ele, desde 1980 a população latino americana está vivendo, em média, 22 anos a mais. No entanto, a região enfrenta dificuldades para manter essa população, pois poucos países conseguem pagar aposentadorias para a maioria dos idosos (o Brasil, segundo dados apresentados por Lavandez, está na frente dos vizinhos neste quesito). Somente 30% dos aposentados latino americanos sobrevivem com aposentadorias.
O geneticista Sérgio Pena, diretor do Laboratório de Genômica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), salientou em sua apresentação sobre o tema do envelhecimento, que fala-se muito em viver mais, mas que é também necessário pensar em como envelhecer com boa saúde e qualidade de vida. Pena discorreu sobre a possibilidade de cada pessoa possuir, em futuro próximo, o seu mapa genético disponível até mesmo em um tablet. Assim poderá acompanhar com frequência a evolução de seus indicadores genéticos e prevenir possíveis doenças, como câncer e doenças cardiovasculares. Pena enfatizou que estamos no início de um novo tempo para a área da saúde, com o início da chamada Medicina de Precisão (Precision Medicine no Inglês) que ao olhar cada indivíduo se debruçará sobre as características genéticas individuais. 
Um quadro mais severo sobre o mal de Alzheimer foi apresentado por Manfred Hallschmid, professor do Departamento de Psicologia Médica e Neurobiologia Comportamental da Universidade de Tubingen, Alemanha. Hallschmid disse que estudos sobre a doença, considerada como um problema de saúde pública em países como os Estados Unidos, denotam que pacientes com Alzheimer apresentam redução nos receptores de insulina cerebrais. A resistência periférica à insulina no cérebro, como acontece com o diabetes tipo 2, portanto, pode aumentar o risco de também levar à doença neurodegenerativa. Experimentos já estão sendo feitos com voluntários portadores de Alzheimer, que inalam insulina direcionada ao cérebro, com resultados preliminares de redução ou controle da doença.
A prevenção do câncer foi o tema da apresentação do vice-presidente do Instituto de Pesquisa Avançada de Shangai, Jiarui Wu. Ele salientou que embora grandes investimentos em pesquisas para a cura do câncer tenham sido feitos pelos EUA nos últimos 40 anos, a doença continua a atingir um número cada vez maior de pessoas. A incidência está associada ao fato de que quanto mais envelhece a população, mais suscetível ela se torna às doenças crônicas. Para Wu, que é bioquímico, a melhor prevenção ainda está associada a hábitos saudáveis como não fumar, ter alimentação adequada – citando alimentos específicos que contêm licopeno, por exemplo, para a prevenção de alguns tipos de câncer – e a prática de exercícios. 
(Fabíola de Oliveira)