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Leopoldo de Meis é homenageado em sessão especial na 67ª Reunião Anual da SBPC

Mais do que um cientista, um homem apaixonado pela vida e pelo prazer de ensinar e estimular jovens, sobretudo os sem condições financeiras favoráveis, a desenvolver o gosto pela ciência. Assim era o egípcio, criado em Nápoles (Itália) e naturalizado brasileiro Leopoldo de Meis.
Ex-alunos e colegas fizeram depoimentos emocionados revelando várias facetas de um cientista que nunca aceitou um não como resposta
Mais do que um cientista, um homem apaixonado pela vida e pelo prazer de ensinar e estimular jovens, sobretudo os sem condições financeiras favoráveis, a desenvolver o gosto pela ciência.  Assim era o egípcio, criado em Nápoles (Itália) e naturalizado brasileiro Leopoldo de Meis. 
Ainda sob o impacto de sua morte repentina em dezembro de 2014, a comunidade científica fez uma sessão especial para homenagear o cientista durante a 67ª Reunião Anual da SBPC, que ocorre até 18 de julho em São Carlos (SP).
Coordenada pela presidente da SBPC, Helena Nader, a sessão, emocionante até mesmo para quem não conhecia o cientista, contou com depoimentos de quem dividiu com Leopoldo de Meis muito mais que a bancada de um laboratório. 
Os depoimentos foram feitos por Paulo Arruda, professor do Instituto de Biologia da Unicamp; Antonio Galina, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ; Denise Pires de Carvalho, do Instituto de Biofísica da UFRJ; João Batista Calixto, professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina; Wagner Seixas da Silva, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, e Jorge Almeida  Guimarães, professor da UFRGS e presidente da Capes até maio deste ano.   
Apesar de os relatos mostrarem facetas diferenciadas de Leopoldo de Meis – o professor exigente, o pesquisador obstinado, o amante da gastronomia, o apaixonado pela família e pela Itália –, todos destacaram o talento, a generosidade e a paixão do cientista pela vida e pelo seu trabalho. São muitos os adjetivos para definir o médico que ajudou a revolucionar a bioquímica no Brasil ao persistir em linhas de pesquisas muitas vezes desacreditadas pela comunidade científica internacional, mas que o levaram a descobertas tão certeiras quanto seu faro para a ciência. 
Os relatos foram tão emocionantes que motivaram a viúva de Meis, a professora Vivian Rumjanek, a fechar a conferência, embora esse relato não estivesse programado. “Eu só gostaria de acrescentar uma coisa. Ele era tudo isso que vocês relataram porque ele amava o que fazia. Nos meus momentos de maior angústia, ele sempre dizia que eu deveria seguir meu coração e me dedicar ao que eu amasse de verdade”, destacou 
Vivian. 
Entre as inúmeras contribuições para a ciência, os colegas lembraram um dos episódios de maior destaque da vida acadêmica de Meis. Ele e seu aluno de mestrado Hatisaburo Masuda publicaram um paper em 1973, mesmo ano em que Paul Boyer (ganhador do Prêmio Nobel de Química de 1997) realizou trabalho com resultados semelhantes. 
O trabalho de Meis e Masuda foi iniciado a partir da ideia de reproduzir um experimento feito por Madoka  Makinose, a fosforilação de uma enzima de fósforo inorgânico (Pi), que usava a mesma energia derivada do gradiente. De Meis e Masuda resolveram repetir a experiência com vesículas permeabilizadas com éter etílico. Apesar de não haver fonte de energia disponível, eles encontraram um pequeno, mas relevante, nível de fosforilação, aproximadamente um décimo do que podia ser medido com as vesículas carregadas de íons de cálcio. Boyer obteve resultados semelhantes, em trabalho publicado no mesmo ano, com enzimas a mitocôndria F1-Fo. 
De Meis fez contato com Boyer, que alegou não ter citado o trabalho porque seu artigo já tinha passado por provas tipográficas quando ele teve conhecimento da pesquisa no Brasil. Porém, a partir desse contato, nasceu uma nova colaboração. Boyer passou a visitar Meis várias vezes no Rio de Janeiro. 
Além de ganhar o respeito de toda a comunidade científica, no Brasil e no mundo, por suas linhas de pesquisa – relacionadas a mecanismos de transdução de energia em sistemas biológicos, transporte ativo de íons e síntese e hidrólise de ATP (adenosina trifosfato), nucleotídeo responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas – , Meis conquistou admiração em áreas como sociologia da ciência, por seus estudos pioneiros com relação a trabalhos de pesquisadores no Brasil, e educação científica. Inconformado em ver jovens de classe baixa sem oportunidades de educação, ele incentivava adolescentes de áreas carentes para seguir cursos que mostravam o lado lúdico da ciência. 
“Ele estimulava alunos, que, mesmo diante de dificuldades financeiras, nunca abandonaram os estudos no ensino superior e na pós-graduação”, lembrou Wagner Seixas da Silva, que foi um desses alunos.
Em meio a várias frases que marcaram a trajetória de quem conviveu com o cientista, uma delas destacava a paixão com que Meis abraçava os projetos com jovens carentes e arregimentava companheiros cientistas para a mesma missão. “Não sei o que é mais importante: publicar um artigo revolucionário numa revista científica como a Nature ou a Science, ou ver um jovem carente da rede pública feliz ao entrar na universidade”, dizia o cientista. 
(Suzana Liskauskas/Jornal da Ciência)