Iniciativa federal para combater “fuga de cérebros” é bem-vinda, mas insuficiente, avaliam cientistas

Entidades e pesquisadores defendem política mais ampla, que preveja direitos trabalhistas e previdenciários e vagas permanentes, em vez de bolsas. Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC, destaca que a iniciativa é bem-vinda, uma vez que é importante dar condições para que os cientistas brasileiros retornem ao País, mas diz que não acredita que bons cientistas voltem ao Brasil por dinheiro

Anunciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Programa de Repatriação de Talentos – Conhecimento Brasil tem sido comemorado com ressalvas pelos pesquisadores brasileiros. A iniciativa, que visa combater a “fuga de cérebros”, prevê o investimento de R$ 1 bilhão nos próximos anos para incentivar o retorno de cientistas brasileiros que migraram para o Exterior e a participação desses profissionais em projetos locais.

O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine, destaca que a iniciativa é bem-vinda, uma vez que é importante dar condições para que os cientistas brasileiros retornem ao país, mas diz que não acredita que bons cientistas voltem ao Brasil por dinheiro.

— Eu acredito que bons cientistas que queiram voltar virão para cá porque sentem um compromisso com o Brasil, porque em termos de valores, o Brasil não é competitivo. Cientistas, vamos dizer, de “alto gabarito”, têm mais recursos do que isso, e não estou falando de salário no bolso, mas de qualidade de laboratórios e acesso a material, o que se tornou muito caro nas últimas décadas. Então, para quem o dinheiro é fundamental, esse programa não é extremamente atrativo — avalia Janine.

O pesquisador deixa claro que ninguém é contra a medida, propriamente, mas que existe uma preocupação da comunidade acadêmica de que a iniciativa gere sacrifícios para os cientistas que seguem trabalhando no Brasil mesmo com “todo o desastre que foram os últimos anos, toda a perseguição na ciência, todo o corte de verbas”. Janine considera importante investir em quem está no país, que, muitas vezes, encontra poucas perspectivas de atuação, diante de falta de concursos públicos e vagas, que são mais almejadas do que bolsas, que não são permanentes.

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