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SBPC lamenta a morte de Dom Paulo Evaristo Arns

A SBPC recebeu com grande pesar a notícia sobre o falecimento de Dom Paulo Evaristo Arns no início da tarde desta quarta-feira, 14 de dezembro. O arcebispo emérito de São Paulo, ícone de lutas pela democracia e pelos oprimidos no País, também será sempre lembrado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência pelo apoio à realização da 29ª Reunião Anual da SBPC, no de 1977, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), enfrentando a repressão da ditatura militar.

“Dom Paulo Evaristo Arns foi modelo de cidadão e brasileiro. Um homem que se dedicou ao País, independente das crenças individuais de cada um”, declarou a presidente da SBPC, Helena Nader, que destacou a sua corajosa atuação ao permitir a realização da 29ª Reunião Anual da SBPC na PUC-SP

 “Dom Paulo Evaristo Arns foi modelo de cidadão e brasileiro. Um homem que se dedicou ao País, independente das crenças individuais de cada um. O Brasil deve a ele, em conjunto com outros, a democracia que hoje tem. E nós, da SBPC, devemos a ele a Reunião de 1977, realizada na PUC de São Paulo”, declarou a presidente da SBPC, Helena Nader. A SBPC recebeu com grande pesar a notícia sobre o falecimento de Dom Paulo Evaristo Arns no início da tarde desta quarta-feira, 14 de dezembro. O arcebispo emérito de São Paulo, ícone de lutas pela democracia e pelos oprimidos no País, também será sempre lembrado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência pelo apoio à realização da 29ª Reunião Anual da SBPC, no de 1977, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), enfrentando a repressão da ditatura militar.

Inicialmente prevista para ser realizada na Universidade Federal do Ceará (UFC), a 29ª Reunião Anual foi proibida pelo governo militar. O então presidente da SBPC, o físico Oscar Sala, e outros cientistas, tentaram realizá-la na Universidade de São Paulo (USP), mas o local também foi vetado. Por fim, graças à atitude firme do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, então arcebispo metropolitano de São Paulo – que desafiou o regime militar e disponibilizou as instalações da PUC -, o evento foi realizado.  Os militares não podiam invadir a PUC, por ser território do Vaticano, conforme conta Nader.

“Ele não só abriu as portas para que a reunião ocorresse, como se colocou à frente, impedindo que os militares invadissem a Universidade para prender professores e estudantes”, disse a presidente da SBPC.  “Não fosse Dom Paulo Evaristo Arns, teríamos interrompido a sequencia, desde a nossa fundação, de reuniões anuais”, destacou.

O cardeal faleceu aos 95 anos. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina desde o último dia 28 com problemas pulmonares. Nesta semana, havia sofrido uma piora em sua função renal e estava na UTI. O velório e sepultamento de Dom Paulo Evaristo Arns serão na Catedral da Sé, em São Paulo, conforme informou a assessoria de imprensa da Arquidiocese.

Biografia

Filho de Gabriel Arns e Helena Steiner, Dom Paulo Evaristo Arns nasceu em 14 de setembro de 1921, em Forquilhinha (SC). Foi o quinto dos treze filhos do casal. Ingressou na ordem franciscana no ano de 1939 e foi ordenado presbítero em 1945. Estudou patrística (filosofia cristã) e línguas clássicas na Sorbonne de Paris. Foi vigário em subúrbios de Petrópolis (RJ) e em 1966 foi indicado para bispo auxiliar de Dom Agnelo Rossi, em São Paulo. Aos 49 anos, em 1970, foi nomeado arcebispo de São Paulo.

Dom Paulo trabalhou incansavelmente junto às populações da periferia, aos trabalhadores, os mais pobres, e pela defesa e promoção dos direitos humano. A Arquidiocese de São Paulo também ressalta a destemida defesa dos direitos humanos violados e o descreve como “a voz dos sem vozes e arauto da justiça social em na pátria”. Em suas últimas declarações, disse que queria apenas ser lembrado como um “amigo do povo”.

Sua luta política contra as torturas praticadas pela ditadura, para que documentos não fossem eliminados, e também a favor do voto, no movimento Diretas Já é destacada no portal Memórias da Ditadura, do Instituto Vladimir Herzog.

Em 1969, passou a defender seminaristas dominicanos presos por ajudarem militantes opositores. Como presidente da Regional Sul-1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação de “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime que ganhou ampla repercussão, em 1972.

Em outubro de 1975, celebrou na Catedral da Sé o histórico culto ecumênico em honra de Vladimir Herzog, jornalista morto pelo regime. A cerimônia foi um dos momentos mais importantes da história da luta contra o regime militar.

Entre 1979 e 1985, coordenou com o pastor Jaime Wright, de forma clandestina, o Projeto Brasil: Nunca Mais. O trabalho foi realizado em sigilo e o resultado foi a cópia de mais de um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar (STM). Dom Paulo foi responsável pela edição do livro, que se tornou um marco da história dos horrores cometidos nos porões da ditadura.

Ele também criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, em 1972, e a Pastoral da Infância, em 1985, com o apoio de sua irmã Zilda Arns, morta em 2010 durante um terremoto em Porto Príncipe, no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários.

 Recebeu mais de uma centena de títulos nacionais e internacionais por sua obra humanitária, como a Medalha Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), em 1985, o Prêmio “Oscar Romero de Serviços à Não-Violência e aos Pobres”, de Pax Christi (EUA), em 1991, e o Prêmio Niwano da Paz (Japão), em 1994.

Jornal da Ciência, com informações da Arquidiocese de São Paulo e do portal Memórias da Ditadura