Políticas públicas eficazes devem contar com a participação das ciências humanas e sociais, defende diretora da SBPC

Fernanda Sobral integrou conferência livre realizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; evento é parte da programação para a 5ª CNCTI
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Fernanda Sobral. (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC)

A diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Fernanda Sobral. participou na última quarta-feira (03/04) da conferência livre “Ciências Humanas e Sociais”, uma realização do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com apoio da SBPC. O objetivo do evento foi discutir a Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia, (ENCT), que esteve em vigor entre 2016 e 2022, como foco em seu plano de ações para as Ciências Humanas e Sociais.

“As Ciências Humanas e Sociais tendem a ser um reflexo da sociedade e, ao mesmo tempo, ter influências sobre ela, mostrando justamente que são um diálogo entre ciência e sociedade da maior relevância na atualidade. Mas, além de serem um reflexo das relações sociais, elas devem explicar os principais determinantes dos problemas da sociedade e, também, devem contribuir para subsidiar políticas que superem esses problemas”, explicou Sobral, em sua fala.

A diretora da SBPC, que também é professora emérita da Universidade de Brasília (UnB), destacou ainda a importância da comunicação entre as Ciências Humanas e Sociais e as demais áreas.

“Hoje, existe uma ideia predominante de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) para a competitividade, contudo, a democratização da sociedade requer também que olhemos para a dimensão social, ou seja, pensar em CT&I olhando para o bem da coletividade e para o atendimento de necessidades locais e regionais. A inclusão social, o combate à fome e à pobreza são temas que dominam a discussão política e que são de importância das Ciências Humanas e das Humanidades, mas que devem ser trabalhados com outras ciências. É necessário, cada vez mais, uma ciência interdisciplinar.”

Além da presença de Fernanda Sobral, o evento contou com as participações da secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Márcia Barbosa; do vice-presidente da Região Sul da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Ruben Oliven; e do coordenador do Fórum de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes, Frederico Fernandes.

A secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Márcia Barbosa, reforçou o discurso sobre o papel das Ciências Humanas e Sociais como conhecimentos essenciais para uma melhor compreensão da sociedade e, por consequência, para a formulação de leis e políticas adequadas.

“Não é possível você desenhar políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação, não é possível desenhar o futuro da universidade brasileira, sem entender o que está na cabeça dos jovens e onde eles querem ir, para a gente conseguir fazer um desenho político de acordo com isso”, exemplificou.

Representante da ABC, Ruben Oliven frisou que não existe ciência que não seja humana. “Todas as ciências são humanas, porque seus resultados são usados por seres humanos e esses mesmos resultados afetam os seres humanos. Essa distinção que a gente tem entre as áreas científicas, uma divisão epistemológica e burocrática, pode fazer sentido do ponto de vista de financiamento, mas ela não dá conta da realidade das ciências, porque a maior parte das questões que os cientistas envolvem estão ligadas às ciências humanas.”

Encerrando as falas do dia, o coordenador do Fórum de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes, Frederico Fernandes reforçou a importância de os cientistas terem recursos para realizarem suas pesquisas – o que compromete diretamente a construção de políticas -, e o papel da ética como essencial neste processo.

“O Brasil precisa criar um Conselho Nacional de Ética, com participação de entidades científicas e ministérios, de modo que seja uma das bases para a política nacional de CT&I”, ponderou.

A conferência livre “Ciências Humanas e Sociais” está disponível na íntegra no canal do MCTI no YouTube.

Rafael Revadam – Jornal da Ciência