Começou ontem, 30 de novembro, a 28ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), em Dubai. E após quatro anos de boiada passando livremente, com o aval de um governo extremamente negacionista, o Brasil tenta recuperar seu protagonismo nas negociações que envolvem a pauta ambiental mundial.

Em seu discurso na Cúpula do Clima nesta manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o descumprimento de acordos climáticos, a dependência de combustíveis fósseis e advogou pela aceleração de uma economia descarbonizada. Lula está em plena campanha pelo sucesso da COP30, que o Brasil sediará em 2030, em Belém (PA). Será a chance para as maiores lideranças do mundo conhecerem, de fato, a Amazônia de que tanto falam, muitas vezes, irrefletidamente.

O esforço do governo brasileiro para voltar a ser uma liderança nesses debates também encontra desafios internos, especialmente em seu parlamento majoritariamente conservador e terrivelmente influenciado pela bancada do boi. A recente aprovação no Senado do projeto de lei que flexibiliza a autorização para o uso de agrotóxicos coloca em xeque a coerência do discurso do Executivo no enfrentamento das questões ambientais. Somado a isso, há também a incerteza em relação aos planos de exploração de petróleo na Margem Equatorial da Foz do Amazonas e as tragédias provocadas pela falta de políticas de enfrentamento dos extremos climáticos, com as enchentes no sul e sudeste do País e as queimadas na região amazônica e Pantanal.

Lula retornará da COP28 com muita lição de casa e pouco tempo para resolver a falta de alinhamento com o Parlamento brasileiro e demais instâncias do poder no País, além dos outros setores-chave da economia e da sociedade.

Mas esta COP28 é, especialmente, um momento crucial para avaliar o progresso coletivo no combate à crise climática. Neste encontro, será divulgado o primeiro Balanço Global do Acordo de Paris. Firmado por 197 países, incluindo o Brasil, em 2015, o acordo tem como principal meta evitar o aquecimento acima de 1,5°C em relação à era pré-industrial. O que hoje parece uma meta impossível de ser atingida, quiçá já superada.

A COP28 não resolverá a emergência climática que vem sendo alertada há décadas, mas pode impulsionar as urgentes soluções fundamentais. O Brasil, ao voltar a ser um participante ativo nessas negociações, precisa alinhar suas resoluções com o discurso, encarar os desafios internos e consolidar seu compromisso com a preservação ambiental. A avaliação do Balanço Global será um guia para o estabelecimento de novas metas climáticas nacionais, a serem apresentadas na COP30, em 2025, em solo brasileiro.

Na editoria especial do JCN desta sexta-feira, nos juntamos ao alerta dessa COP28: o mundo não pode mais esperar, as tragédias climáticas já são uma realidade cada vez mais intensa nos nossos cotidianos. Esta pode ser a última chance de transformar palavras em ações, e de mudar a rota na direção de um futuro sustentável e resiliente.

Notícias desta semana indicam que cidades como Rio de Janeiro, Sydney e Santos poderão ser inundadas, parcialmente, até o fim do século. Literalmente, o horror bate às nossas portas, pior que isso: ele as escancara! O apocalipse não está num futuro distante: ele está aqui e agora.

Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC

Veja abaixo as notas do Especial da Semana – COP28

ONU Brasil – COP28: o que é e por que importa?

National Geographic Brasil – Qual é a origem da COP, uma das conferências mais importantes sobre mudanças climáticas

Nexo – Qual o status das principais metas definidas em COPs

The Guardian, 29/11/2023 – Acordo para manter esperanças de 1,5ºC vivas está ao alcance, diz presidente da COP28

Greenpeace – COP28: os desafios, as oportunidades e o que poderá ser decidido

Agência Pública – COP28: entenda os principais pontos defendidos pelo Brasil em Dubai

BBC Brasil – Brasil chega à COP28 com trunfo contra desmatamento e ‘esqueletos’ no armário

Observatório do Clima – Fundo climático para perdas e danos é aprovado na COP28

Agência Brasil – COP28 aprova fundo climático de perdas e danos para países vulneráveis

Nexo – A agenda verde que o Brasil tenta aprovar durante a COP28

Estadão – COP28: Lula fala em reduzir dependência de combustíveis fósseis e cobra dinheiro de países ricos

Estadão – Lula ataca potências que ‘lucram com guerra’ e fala em reduzir petróleo

O Globo – COP28: Brasil retoma papel central na negociação do clima, mas Congresso aprova o absurdo subsídio ao carvão

Folha de S. Paulo – Mundo vive colapso climático e 2023 será o ano mais quente da história, diz ONU

CNN, 28/11/2023 – Rio de Janeiro e Santos podem ser invadidas pelo mar até fim do século, segundo estudo

Poder 360 – COP 28 ajudará a identificar compradores de carbono, diz ex-ministro

BBC Brasil – Mudanças Climáticas: “3ºC a mais em Teresina ou Cuiabá pode significar a diferença entre a vida e a morte”

O Tempo – China é o maior emissor mundial de gases do efeito estufa

MCTI – Na COP28, ministra Luciana Santos anuncia editais para transição energética: “reindustrialização deve estar alinhada aos desafios da agenda climática”

Agência Brasil – COP28: governo anuncia financiamento de R$ 20 bi para “agenda verde”

Folha de S. Paulo – Ministra da Ciência lança editais de R$ 20,85 bilhões para transição energética na COP28