Reitores apostam na diversidade para modernizar ensino superior

Experiências inovadoras foram apresentadas na 69ª Reunião Anual da SBPC. Desafio é atualizar as universidades para que o ensino continue atrativo no Século XXI

“Talvez, de todas as instituições da sociedade, a escola seja a mais sacrossanta. E como, como tal, ela resiste mais às mudanças e tem sucesso nessa resistência”. A análise é de Ronaldo Mota, reitor da Universidade Estácio de Sá, um dos participantes da mesa redonda “Educação Superior para o Mundo Contemporâneo”, realizada nesta terça-feira, 18, durante a 69ª Reunião Anual da SBPC. Para Mota, a resistência ao novo, quando é a própria escola que está na berlinda, dificulta a identificação de caminhos que levem a uma modernização no sistema de ensino.

Os avanços da sociedade ao longo do tempo exigem um olhar cuidadoso sobre o papel das universidades no Século XXI. Como apontou Mota, ainda estamos em um modelo teorista-Fordista, focado na produção de técnicos, mas este sistema não é aderente ao grande salto tecnológico pelo qual passou a sociedade nas últimas décadas. “Usar o mesmo método que foi um sucesso no Século XX será um desastre no Século XXI”, apostou o reitor.

Para Carlos Henrique Brito Cruz, diretor científico da Fundação Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), uma das características do sistema atual que precisa ser abandonada para a busca de um ensino de excelência no Século XXI é a valorização da quantidade ao invés da qualidade. Para Brito Cruz, a demanda excessiva por experiências curriculares banalizou a própria experiência. “Daqui a pouco vão pesar os currículos Lattes para ficar mais fácil”, brincou Brito Cruz. Outro exemplo levantado pelo diretor da Fapesp é a passividade das instituições de ensino. “As universidades não buscam os bons alunos. Elas sentam e esperam o vestibular, o Enem”.

Na visão de Klaus Werner Capelle, reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC), existe um grande potencial inexplorado na formação profissional no Brasil. “Temos um talent pool de 205 milhões de pessoas. Isso equivale à Alemanha, França e Itália juntas. Sem contar que temos uma distribuição demográfica ainda muito favorável, com um terço da população abaixo dos 20 anos. Mas isso não vai durar para sempre”, afirmou Capelle.

A falta de recursos na educação e na ciência, tecnologia e inovação tem colocado em risco o aproveitamento dessas vantagens. “Os números mostram que o Brasil é um gigante científico e um gigante econômico. O que temos visto é que esse gigante está começando a cortar as próprias pernas”, lamentou o reitor da UFABC.

Foco na Diversidade

Um ponto em comum entre os debatedores foi a necessidade de abraçar as características que tornam o Brasil multifacetado. “A diversidade é boa. Nós precisamos de todos e dar o mérito para todos”, resumiu a presidente da SBPC, Helena Nader, que conduziu a mesa de discussão. Mas um dos problemas para celebrar essa diversidade é a obsessão em uniformizar todas as instituições refletida, por exemplo, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). “A LDB é uma camisa de força”, reclamou Helena Nader.

Ainda assim novas propostas estão surgindo. É o caso do modelo adotado pela UFABC, focado em uma formação interdisciplinar. Na graduação, os alunos escolhem entre duas áreas amplas – “Ciência e Tecnologia” e “Ciências e Humanidades” – e só definem em que área tradicional pretendem tirar diploma ao fim do curso. Há ainda a oferta de um doutorado acadêmico industrial, feito em parceria com as empresas.

Outro exemplo de arranjo fora do tradicional é o poder dos cursos à distância. No caso da Estácio de Sá, metade dos seus 220 mil alunos não fazem o curso presencialmente. E, segundo o reitor, não há diferença no desempenho entre os grupos. “É preciso despertar a capacidade do domínio de como se apreende”, afirmou Mota.

Para Brito Cruz é preciso também perceber que a busca de uma universidade de excelência não significa colocar todo o sistema de graduação em um projeto de reciclagem de conceitos. “Esses programas não são para todas as universidades do país. Escolhem algumas e depois, em uma outra rodada, ajustam”, explicou o diretor da Fapesp. “Mas, se o Brasil quer universidades excelentes, eu acho que precisaria haver uma aliança das agências de financiamento, governo estadual e governo federal”.

Mariana Mazza – Jornal da Ciência